Meu canto maior

55. MEU CANTO MAIOR

Eu canto a esmo pelos desvãos do mundo

eu canto ao lusco-fusco do anoitecer

às guirlandas do amanhecer

às alvíssaras de um novo dia

eu canto às farândolas de um outro

século que jamais verei nascer

eu canto a esmo pelos desvãos do mundo

eu canto à mulher bem-amada

desamada mal-amada desenganada

maltratada e desalmada

eu canto aos povos de todo o mundo

em todas as línguas e para todas as raças

eu canto a Whitman Hölderlin

Khayyam Tagore Pessoa e Rimbaud

eu canto aos poetas maiores e menores

e a mim mesmo poeta-gestalt

eu canto à musa

eu canto a beleza

eu canto a flor

eu canto a dor e a morte

eu canto a vida e o amor

eu canto a todos os santos

firmados e passados

eu canto aos deuses maiores

eu canto a árvore e a natureza

eu canto a árvore enquanto natura

em si completa sem contudo

antropomorfizá-la

eu canto ao lixo atômico

ao lixo humano e desumano

aos deuses menores e a mim mesmo

In SIM, EFETIVAMENTE, Rio, Fábrica do Livro, SINAI/RJ, 2009.