VERSOS FUTUROS

Finalmente anoitece. E sinto a força da palavra pulsar neste corpo que adormecia. Não temo mais o frio, tampouco os sinais de gelo que tornavam cinza os dias de sol quente. Restituição das cores fortes numa aquarela de universos que eu guardo como um cão que zela pelo seu dono. Necessito descer ao abismo chamado medo. Lá estão as minhas iniciais. Volto à luz e respiro o ar dos dias de gozo absoluto. Paraíso astral. Terra-Mercúrio. Monstros insanos presos nos livros que não escrevi. Por fim, depois da agonia, o antídoto na última página. Serenamente adormeço recitando meus versos futuros. Ninguém me matará desta vez. Nem eu.

Sandra Fuentes

Rio de Janeiro, 16 de setembro de 1969.