Coração e brejo

Não vá desarmado,

Ao menos seu coração

Deve levar.

Nele tem tudo que você precisa

Monstros , balas de canhão

Se precisar de uma tristeza

Uma mágoa, ódio velado,

Abandono, traição.

Não use revolver, faca, pedras.

Seria pobre essa condição.

Não seja ingênuo,

Mataria somente o corpo

Não se morre assim direito

Morte boa é a metafísica.

Sem corpo, furos, enterros,

Somente a imensidão do mundo

Vaga, sem limites a guiar..

Morre bom, quando se liberta..

Deixa doido, sem mãe e salário

Esperança, afogado, no turvo do mar.

Sem corrimão, mãos, retalhos

Somente o vazio, segurar?

Morre bom quando se fere,

Na imensidão, nos cheiros

Aromas , nos poros,

Nos pés, na fé na terra, livros

Guaranás, amor, beijo, tardes

Encantos, serenatas, partidas

Se morre bom

Quando não se acha a morte

Apesar de morto

Quando o precipício é bruma

Impalpável e as palavras imprestáveis

Terá tempo já fugir.

Já que, morre sem verbo

Insondável, o morto

Morreu sua alma...