Ser (ou não ser Pessoa, quiçá Caeiro)

Ser

amplo e múltiplo gesto,

anônimo

ou manifesto.

Ser

ortônimo e heterônimo,

mensagem e mensageiro.

(Ser partes é ser inteiro).

Ser signo mágico,

trágico;

símbolo epônimo,

sinônimo.

Ser nota de diário,

da perspectiva além do ópio

e do obituário.

(Ser ponto de fuga do eu e de si próprio).

Ser Ca(ncion)eiro

de devaneios

alheios.

Virtualidade pagã

exilada da vida em Sá-Ca(rn)eiro.

Ser

manhã e madrugada

e noite e dia

e tudo e nada.

Ser a cada instante

qualquer coisa no íntimo do ser.

(Ser perto é ser distante).

Ser

presença e ausência,

histérico e esotérico,

ser triste e ser contente,

ser poeta fingidor fingidamente.

Ser tudo isso:

ontem, pena e tinteiro,

hoje, feitiço

e feiticeiro.

Ser a chuva também é ser o cheiro

de quando a chuva cessa.

(Ser o próprio prometer e o primeiro a trair essa promessa).

Ser (Pessoa

é ser) todas as pessoas,

más e boas.

Ser devagar e ser depressa,

apego e desapego.

Ser

desassossego.

Ser (Pessoa

é ser) todos os assombros,

desconstruir a própria identidade,

ver de perto a verdade

e dar de ombros.

(Poema originalmente publicado em www.primeiroprograma.com.br/site

em 13/junho/2011 por ocasião do aniversário de nascimento do grande poeta português Fernando Pessoa)

luca barbabianca
Enviado por luca barbabianca em 19/07/2011
Reeditado em 22/07/2011
Código do texto: T3104395
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