Da terra, o Céu!
Quero te ver, meu amor
Olhar escorrido no queixo
Que tem boca e palavras
Quero descer
Como uma pedra ao mar
Ver seus desvios, erros
O seu lado cinza e pecaminoso
Quero te roubar
Do seu barco de verniz
Te jogar nas águas profundas de que padeço
Terra minha, saltos e barrancos
Cores diversas, mortes e cansaço sem lastro
Quero te trazer com se traz um burro
Um animal qualquer, uma donzela frágil e sem dono
Pra esse canto, sereno, de corte e veias
De beijos e raios, de carne e estrelas...
Quero que veja o céu daqui da terra.
Baixar até o cobertor do chão
Onde mora os bichos e o adubo
Vermes e madrugadas
Onde a música é abafada
O ar, rarefeito, comida rara
Quero você nós pés de trapicho
Onde é nossa morada
Que em tubo de ensaio
A vida é embalada
No tempo certo voltará
Com séculos em suas costas
Com açoites e escorias
Será filha dos oceanos
Saberá dos barcos e das formigas
Das belezas escondidas
E dos sons, que escondidos,
Abafavam a viva vida....