Romântico, nostálgico e esquisito
Sinto falta da folha do caderno
da caneta esferográfica Bic
do cheiro da tinta manchando as pontas dos dedos
da sensação estranha da página em branco
das palavras brotando no pensamento
canso-me às vezes do teclado com letras esmaecidas
do papel em branco sem vida
sem textura
da facilidade com a qual a tecnologia
corrompe a arte da escrita
já nasci um poeta velho
romântico
nostálgico
esquisito
infectado com o vírus da poesia
espero dela morrer um dia
e poder voltar pra casa
caminhando por uma estrada
feita de verbos, adjetivos, substantivos
margeados por rios de sílabas tônicas
onde tremas, acentos circunflexos, crases
voam em bandos para os quatro cantos do mundo
e todas as dimensões que possam existir nele
contextualizando tudo que fui
ao longo dessa vida breve:
um eterno aprendiz de escritor.