REVERBERAÇÃO
será que sou só ecos
ecos das vozes que ouvi
e nada mais
ecos do meu pai mordendo
e assoprando
do meu pai trabalhando
e estudando
do meu pai trabalhando
e namorando
ecos da minha mãe sofrendo
e linda
da minha mãe mentindo
e linda
da minha mãe enlouquecendo
e morrendo
ecos de minhas irmãs
distantes e femininas
femininas e distantes
bem distantes
distantes demais
ecos dos vizinhos ignorantes
dos professores ignorantes
dos parentes ignorantes
que tudo ignoravam
que me ignoravam sobretudo
ecos de tiozahdoque
de cláudio
de washington
de outros
muito poucos
que contracenamos
tragédias e comédias
ecos de paixões sem nome
pois érica andréa manuella
não querem dizer nada
chamas breves
que não sabem saudade
ecos de chamas teimosas
de muitos nomes
machado rosa ubaldo
cabral gullar leminski
moska zeca lenine
hesse dostoiévski
maiakóvski
shakespeare
mas ecos de poucos nomes
pois manuel bandeira
carlos drummond
chico buarque
e caetano veloso
bastariam
ou talvez bastasse
só o professor tomaz
mas ecos mais fortes
tanto que eternos
e que ecoam apesar de
e acima de
mas ecos mais fortes
ecos só aurora
só brisa
sem nuvem nem chuva
algum arrependimento talvez
mas sem se por
sempre brilho
mas ecos mais fortes
ecos sol
cíntia
sol
edna
sol
filha
sol
amor
mas ecos bem mais fortes
ecos de um futuro amor
que propagará ao meu lado
que terá sua melodia própria
mas que caberá
na harmonia dos meus ecos
mas será que também sopro
que também tiro seus sonos
que também os deixo loucos
e ecoo
matéria de seus espíritos
sou sim ecos
não só
mas na essência
na espinha dorsal
no verso do poema
em que eu sol nós
só brilho
[2009/2011]