DESENCANTO

Chego ao final de mais um dia.

Ouço o badalar do sino da praça

anunciando o começo da noite

e uma Ave Maria muito harmoniosa

a tocar numa estação de rádio.

Passo então a agradecer ao universo

pela vida e pelos sonhos, que embora

dados a mim, foram me roubados

durante as horas do dia que se finda.

Mas que sem eles o meu viver não seria construído.

Passo a lamentar por mais um dia de incertezas,

mais um dia tentando decifrar

seus olhos e o seu sorriso,

seus gestos e o seu desejo,

seus sentimentos e as suas intenções.

Dirijo-te a palavra,

e falas comigo de modo tão meigo,

que penso entender, penso ter certeza

que sentis algo por mim.

Porém, percebo que ages dessa forma

também com os nossos amigos,

abraçando-os e acariciando-os.

Se soubesse dos meus sentimentos

perceberia uma pontinha de ciúme no meu olhar...

Mas que bobo sou eu!

Sonhando com o impossível,

analisando o improvável,

amando o imaginário!

Estou agindo como um adolescente,

percebo isso, mas não consigo me controlar.

Ás vezes quero lhe dar um sinal,

mas fico a esperar uma iniciativa sua.

Quero lhe dizer alguma coisa,

mas as palavras não saem.

Quero lhe mostrar um caminho,

mas não sei a direção.

Às vezes quero tudo,

e, que decepção,

não consigo nada.

O medo e a incerteza

transformam os meus sentimentos

em puro DESENCANTO.