PARA NÃO ESQUECER QUE TE ESQUECI
Procuro tuas mãos entre os refolhos
da saudade que me restou, branca,
o gume inox da lembrança arranca
do meu peito fragmentos vários.
A rua nem me causa mais espanto,
já nem me causa medo teu desejo,
ando muito só, eis que hoje vejo
tua boca assombrando meu caminho.
Entretanto páro sobre as vigas
deste sonho que se foi na espuma,
mais à frente avisto vasta bruma
do que me restou tua meiguice;
a nesga de luz que em mim se oculta
mais e mais tua lembrança avulta.