Canto da morte
Antes eu era noite
Hoje sou dia e noite
Era menino
Mas já fui menina
Hoje sou menino e menina
Era fraco
Já fui forte
Agora, sou os dois
Fraco e forte
Já amei
Já odiei
Sou céu em anjo
Mas bicho de arcanjo
Sou pena e arte
No acordo tem saudade
Tenho a vida em meu encalço
Tenho morte e vontade
Tanto no sono
Quanto nos pés
Tenho na vida uma mulher
Que compõe o trato do mundo
O campo de trigo
A seda que veste
Que transcorre, que transmuta
Entrelaça no próprio mundo
Se torna ela
O céu varre o campo
As plantações
O pau, o doce
Varre inferno
Ameniza seu canto de fogo
Faz arte, balé de gente
Na poeira invencível da vida
Eu canto pra você
Minha amada
Esse canto de morte
E de vida, que
Depende dos seus olhos
E dos pés que te carrega...