Fumaça

Se acaso um dia eu não tivesse pra onde ir,

eu deixaria você me conduzir,

os meus caminhos são tão incertos,

é mais provável que eu fique mesmo aqui.

Eu estava caminhando e ouvindo meus amigos,

percebi que minha vida pode estar toda perdida,

mas ainda posso ser feliz,

você existe em algum lugar pra mim.

Eu espero o tempo passar, muito inquieta,

parece que a chuva me trai e me conserta,

eu estou aflita, esperando,

mas o tempo não passa;

talvez essa noite eu esteja assinando

a minha desgraça,

mas se há de ser, com o tempo chega o dia,

e da minha vaidade

nasce, então, a covardia...

incertamente gosto de você,

e não posso lutar.

Os meus segredos falam alto demais

quando me olham nos olhos,

parece que ter um amigo é mesmo

a primeira necessidade,

quando eu abraço, também me desfaço,

por minha amizade, entrego a casa inteira.

São sonhos penosos, esses meus,

a minha verdade é como fumaça,

então me abalo por muito pouco,

quando, na verdade, quero provar que sou forte.

O chão que eu piso é de papelão,

caiu a chuva e fez enchente,

meus pés estão molhados

e minhas mãos estão sangrando...

Minha vida pode estar acabando,

rápido demais pra que eu possa entender,

não vejo mesmo saídas de verdade,

estão todos cuidando de seus filhos,

meus filhos são meninos de rua,

estão em algum canto pedindo esmola,

pra voltar pra casa eu preciso de um caminho,

se eu me perder, ninguém vai me ajudar.

É verdade, creio eu...

... tudo bem em ficarmos por aqui,

se amanhecer e eu perder a hora,

talvez nem tenha que ir embora,

apesar de tudo, sei que isso é só utopia,

mas, nessa noite, não...

não vou mais me importar,

minhas coisas e meu trabalho podem esperar,

e eu só espero que você goste de mim.

A vida é muito pequena,

se eu tivesse um filho pra criar,

talvez eu não estivesse aqui pensando,

pensando muito sem encontrar saída.

A conclusão a que chego

é sempre o início da discussão,

estou perdida, muito perdida e triste,

mas, também, você nem tem nada a ver com isso,

e eu fico falando, falando...

os copos, de repente, se quebram,

não há nada a fazer.