Água doce
Água doce
maria da graça almeida
Borbulhante, perfumada,
de manhã, ou mais tardar,
abundante ou minguada,
bebo água adocicada
pra minh'alma abrandar.
Boto mel na água doce,
açucaro-a até enjoar.
Se assim doce inda eu não fosse,
nem o espanto de um coice,
nem o doce da água doce
me fariam serenar.
Junto cacos e gravetos;
troco trapos, amuletos,
hei de a morte retardar.
Coso mantas, teço malhas,
com um ponto e muitas falhas,
posso a vida enganar.
Todo açúcar à água doce,
devo ainda acrescentar.
Se assim doce a água não fosse,
nem os fios de várias foices
me fariam sossegar.
maria da graça almeida