ESTOU AO MAR

Estou ao mar,

E meu coração está tão seco.

Nem pedra é,

Pois, com o tempo à pedra se modifica,

Muda, quebra,

Encontra outra forma,

Cansa das ondas constantes!

Meu coração, não!

Estou ao mar,

E a brisa fria me é tão mansa

Que me parece que a tenho desde cedo!

Não, não. Eu não estou triste, eu sou só!

E não é uma solidão sem amigos,

Sem família,

Sem mulheres...

Não, juro que não!

É uma solidão pior.

É uma solidão de quem é só,

Em si mesmo.

Não é que as entranhas não ferem,

Que não queime que não delate,

E que de tão morno e manso,

Capotei tão vagarosamente pra um “eu” estranho.

Algo como vela acesa!

Ponta a ponta,

Gota a gota,

Passo a passo.

Estou ao mar

E são nítidas as palavras que digo ao vento,

As cores de guarda-sol,

Essa bebida, singular.

--- Sem querer até percebi uma moeda trazidas pelas ondas!

Estou ao mar

E meu coração está tão seco,

Que bem poderia beber toda essa água salgada.

Triste poeta, de coração seco,

--- esqueceu de entrar no mar---

Severino Filho
Enviado por Severino Filho em 11/07/2011
Código do texto: T3089187
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