GENTE COMO A GENTE
Eu já nem me conheço
Não sei mais quem eu sou
Nem sei para onde vou
O que faço o que tenho
Tenho que franzir o cenho
Para lembrar minhas raízes
Que são boas e felizes
E que há muita bagagem.
Falar de mim e ser puro
Não é fácil, nem é seguro
Pode sair muita bobagem.
Continuo sempre em viagem
Já rodei mundos e montes
Atravessei rios sem pontes
Brejos, matas virgens e fechadas
Roças, campos e invernadas
Para acabar numa cidade
Acomodado pela idade
Mas continuo muito inquieto
Não gosto de acomodação
Não gosto de ficar no chão
Olhando apenas pro teto.
Não abandono a tradição
Mas sempre procuro o novo
Gosto de andar entre o povo
Manter com todos contatos
Em esquinas de bate-papos
Ou em janelas de fofocas
Não gosto de ficar na toca
Mas sair no olho a olho
Discutir, dialogar, até brigar
Sem jamais me desligar
Da vida do lugar que escolho.
Agora tenho o atrevimento
De viver com este povo legal
E falar dele, nem bem nem mal
Não são cultos nem são broncos
Não são cerne, mas são troncos
Não são ricos nem miseráveis
Índios, brancos e pretos: sociáveis
Nem iguais, nem diferentes
Este é o povo que me adotou
Que amei e que me amou
Apenas gente como a gente.