Declaração em Juízo




Quando empinei minha pipa
Tive a grande vibração
Era como se minha vida
Ganhasse aquela amplidão.
Mas num descuido da sorte
Um deus perverso e pagão
Deu-me a sentença de morte
E eu nem sabia a razão.
Eu fui deixado à deriva
Em cada esquina um irmão
Hoje ninguém mais duvida
Que meu nome é legião
Agora sou a carniça
Aos urubus de plantão
Dizem que eu tenho preguiça
Que eu não mereço perdão.
Sou como um cego no escuro
Sou de mim mesmo a prisão
Tenho suores noturnos
Como qualquer cidadão.
Quando dormindo ao relento
Ouço barulhos no chão
Vozes trazidas no vento
Apertam meu coração.
Então declaro em juízo
Faço a minha confissão
Culpa por ter existido
E eu nem pedi isso não.