AS CONFISSÕES DA INVEJA
Quantas dores me causam triunfos alheios!
E quanto ódio em refluxos nos nervos golfados!
Dilaceram minh'alma brutais tiroteios
quando alguém faz da vida uns acervos dourados.
O furor me afogando em violentos ondeios,
arde em mim o amarume dos dons torturados,
mas as chagas no corpo me servem de arreios
na labuta à procura de mais fracassados.
Vou seguindo nos vales das sortes inglórias,
arrastando destinos por tortuosas rotas,
a cravar minha adaga em sombrias histórias.
Faço pouso em escuras e sinistras grotas
a tramar as ciladas que roem vitórias,
inda que tal me custe entregar-me às derrotas!
(Primeira publicação em 31 de agosto de 2010).