Poema 10 de continuação
Acho que desta vez eu consegui
despistar meus inimigos,
enganar os meus amigos.
Todos pensam que eu te esqueci,
mas, na verdade, você ainda vive aqui
dentro de mim.
Incontáveis noites passei
contando estrelas,
lembrando o passado,
e o coração batendo apressado,
eu buscando uma resposta,
tentando ouvir sua voz na madrugada.
Fria... a madrugada traz o vento,
assobiando em meu pensamento
como flauta, enfeitiçando meus ouvidos.
Meus olhos de menina tão carente
olhando o céu, contando as luas...
lua cheia, lua nova, a distância cresce a cada dia,
quando tento te alcançar você me foge,
a lua cheia, a lua nova, a esperança é minguante,
a saudade cresce e se faz mais forte.
O sol não tocou mais minha pele
depois que você se foi,
o castanho dos meus olhos já não brilha,
pois o brilho você levou
nos seus olhos quando se foi,
mas a saudade você não levou
pois não cabia na sua mala,
mas espero que meu rosto tenha ficado
na sua lembrança,
se não, ao menos minha música
tenha permanecido em seus ouvidos.
De longe, a lua me olha,
não sei o que ela pergunta, nem sei se me responde,
porque toda noite lhe pergunto onde está você,
acho que ela fica calada, finge de morta,
não quer me ajudar.
Quase tudo que eu faço me lembra você
porque somos tão parecidos,
uma pena que não aproveitei nosso tempo juntos
e aquela chuva, tão linda;
aqui, se você não sabe, não chove mais
desde que você foi embora,
eu sinto falta do barulho da chuva na minha janela...
me lembra quando eu era criança
e chorava ouvindo a chuva.
Mas, mesmo esperando pela chuva, estou mentindo,
porque eu espero mesmo é você,
ou o momento de te encontrar.
E ainda tem o seu perfume,
o gosto da sua boca e o seu toque,
flagelando, assim, meus cinco sentidos.
Sem contar a irônica intuição
de que nossa história está só começando
a ouvir o vento passar como som de flauta
e a ver a lua cheia, a lua nova
que só é vista pelos olhos da alma insone.
Incontáveis noites já se passaram
sobre meu travesseiro manchado de pesadelos,
nas quais eu acordava de madrugada
tentando ouvir sua voz me chamar,
assustada com o brilho da lua que atravessava
os vidros da minha janela, como fantasma.
Nessas noites eu desejava poder sair correndo
pra fora da minha realidade e ir
me encontrar com você,
fosse onde fosse,
pra não ter medo de ficar tão longe de você
quanto eu estou agora.
Agora não há escuridão sem medo,
vento sem saudade,
lua sem perguntas,
estrelas sem poesia,
palavras sem lembranças.
Não vou esquecer...
nunca...
não vou desistir...
não vou deixar seu rosto amarelar
num álbum de fotografias, porque não tenho um.
Mas não vou deixar você se desfigurar
na minha poesia,
porque um dia vou te encontrar definitivamente,
pra corrermos todas as avenidas da madrugada,
respondendo à pergunta que a lua me faz toda noite.
E até agora não me convenci
de que este será o último poema,
pois nem a morte é finita,
nem os poemas...
ainda mais quando o amor não acabou...
Perdoa-me a fraqueza que me obriga a mentir
aos meus amigos,
fingindo um novo amor que não existe,
estou tentando vencer a saudade
que se abateu sobre meus planos de te esquecer,
estou tentando despistar, agora, a mim mesma,
enquanto não chega o momento mágico do nosso encontro.
Acho que este não será o último poema...
se último, será infinito, como o amor
que tenho por você.
Amanhã, talvez, vou querer apagar algumas linhas,
com medo de chorar.
Mas, meu amor,
mesmo que eu aparente sorrir como rosa branca de felicidade,
vou sorrir como rosa branca só porque te amo.
Quando a poeira da estrada encobrir meus olhos
no fim desta tarde de domingo,
estarei me lembrando do teu corpo molhado de chuva
e da sua boca cantando aquela música que
eu prefiro não esquecer e que diz...
Como eu queria você aqui.
Como eu queria você aqui,
e como eu queria acordar desse pesadelo
e ver que a BR não é tão extensa e
tão vazia como parece.
Essa noite eu posso descer as escadas,
abrir os portões e tentar ouvir...
quem sabe o vento toque uma música
no seu violão e me deixe dormir...