Nasci assim

“Nasci assim e sei que vou morrer

sendo poeta só no coração.”

(Carlos Severiano Cavalcanti)

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Um certo dia amanheci tristonho

e fiz um verso pobre, sem calor,

não consegui falar sequer de amor,

mister para que tanto me disponho.

É que durante a noite eu tive um sonho

e me acordei tremendo de emoção.

Foi quando descobri que não sou tão

desmotivado em hora de escrever.

Nasci assim e sei que vou morrer

sendo poeta só no coração.

Inda outra vez me descobri rimando

inspiração com frenesi. Talvez

naquele instante a rima se desfez

porque me acabrunhava, vez em quando

em me sentir poeta. Um choro brando

invoca logo um verso de prazer.

Nasci assim e sei que vou morrer

sendo poeta só no coração.

É pouca coisa, eu sei; peço perdão

por não fazer melhor que sei fazer.

Mas vou me corrigir. É meu dever

mostrar num verso alegre a poesia

e enaltecer a vida, a luz, o dia

enquanto espero, insone, o sol nascer.

Nasci assim e sei que vou morrer

sendo poeta só no coração.

A madrugada é musa, inspiração,

mistura morte e vida, amor e dor,

me faz poeta pleno e sonhador,

transforma a dor em letra de canção.

E, se faço poemas, por que não

mostrar ao mundo o que não sei dizer?

Nasci assim e sei que vou morrer

sendo poeta só no coração.

Quero mostrar ao mundo, porém não

sei controlar a mão: escrevo mais

que dita a minha mente. Eu sou capaz

até de fazer versos sem valor,

sem alma, sem beleza, sem calor,

mas de escrever não pararei jamais.

Nasci assim e sei que vou morrer

sendo poeta só no coração.

Eu sei que o mundo vai me dar razão

porque razão não tenho e quero ter.

Quero escrever meus versos com prazer,

quero mostrar meus versos com amor,

amor de amante, forte, sofredor,

amor total, sem mácula, sem medo.

Ao mundo eu não quero esconder segredo.

Eu sou poeta, sim; sou sonhador.