Ilusões no deserto
Ontem eu chorei.
Chorei de felicidade, por voltar a sentir a vida fluindo em mim
Achava-me em pedaços e audaciosamente viajei pelo tempo, pelas lembranças mais sutis
Sufoquei meus sentidos mais torpes
Vi o que há de melhor e de mais terrível nas pessoas
Vi camadas encobertas e profundas de almas sendo arrastadas
pelos ventos fortes do deserto
Vi-me completamente nua, despida
Eis-me aqui, eis-nos lá, vendo miragens em um deserto
Outrora, minha vida era rica em humores
Idas e vindas, mas basta! – ergo hoje minhas fronteiras
Só eu luto nessa luta...
Meu deserto acalmou guerras implacáveis,
nas batalhas incessantes pelas ilusões da mente
E, pelos recantos desérticos,
Fui destemida, usei a força das minhas muitas vidas
E de batalha em batalha, encontrei o escultor
Hoje, estou renovada
Fui esculpida a ferro e fogo por mãos invisíveis,
Retalhada, recriada, reinventada
Chamei de volta à existência esperanças, sonhos e até amores
Restaurei minhas fortalezas abatidas
E, nunca mais me atrevo a perder a jóia mais preciosa do escultor: a escultura
A obra mais perfeita e admirável – a Vida
“O que a lagarta chama de fim do mundo, o mestre chama de borboleta.” (R. Bach)