POEMA PRECÁRIO

O pouco pão que comes

sobeja em outras mesas.

Qual é a tua culpa?

O mundo é o que é.

As coisas se organizam

dessa forma.

Uns têm mais; outros, menos.

Uns gritam: injustiça!

Outros se calam.

Pobres ou ricos,

por todos espera a cova.

Nem só de pão vive o homem.

Não somos formigas

para viver acumulando

temendo

os invernos.

A morte é fria: inverno perene.

Não há como fugir dela.

Resta-nos procurar,

quer tenha pão demais, ou nenhum,

o sentido da existência.