MURALHAS*

As muralhas são mãos erguidas

que as levantaram.

Pedra sobre pedra,

Corpos fadigados.

Gemem os que as ergueram.

Suam gotas que constituem suas únicas argamassas.

Contorcem-se de dor.

Retorcem-se de agonia.

Aquelas, monumentos,

humanos, estes.

Trabalho de sol a sol

Leste a oeste.

Levantam-se.

São concretos e lágrimas

testemunhas

daqueles que as fizeram

contra

aqueles que as ordenaram

e

se apossaram do que era

de outros ainda

De Norte a Sul

As muralhas atrozes

Suplicam

Acusam

Gemem

ferozes

não querem se calar.

Oração do dia-a-dia

Clamam justiça

Denunciam verdades

Muros de pedregulhos

Ao redor de fazendas

Nas minas gerais

Cardeais

Eternos ais

De ponto

A ponto.

*muros de grandes pedras construídos por escravos e ainda vistos em Minas Gerais.

L.L. Bcena, 31/01/2010

POEMA 289 – CADERNO: CHEGADA AO PORTO.

Leonardo Lisbôa
Enviado por Leonardo Lisbôa em 06/07/2011
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