O MENINO E A CHUVA
Na calçada, o corpinho nu
se contrai ante a torrente
que do céu desaba.
A água escorre fria
pelo corpo do menino.
Olhos assustados,
como duas pérolas negras
ao abrir da concha,
perdidos, à procura
de um refúgio.
A câmera do tempo
registra a sua nudez.
O que virá de
um homem
se estampa agora.
É como se o expor-se
garanta o latejar
de alhures.
O que mudou?
em que espaço/tempo o menino
se refugiou para
surgir o homem tentador,
debaixo de um aguaceiro
pela rua,
solitário,
intumescendo as
mil línguas?
Olhos assustados
como tição de um fogo
aceso
à procura de
uma ninfa
que registre
a sua nudez.
O homem já se estampa…
O latejar
pulsa
no corpo magro
e teso.
Um jato de quentura
como se surgido
de uma fornalha
queima nesse instante,
delirante!
*
Nota: IX Prêmio Literário Livraria Asabeça 2010
Antologia de Poesias (Juvenil/Adulto/Terceira Idade)