O Héktor extremo

Não fujo ao destino, corro a ele,

Três vezes circundei os muros da cidade

Três vezes mais confirmei os limites

E se fosse também filho de Thétis, Aquiles,

E se minha mãe abraçasse os joelhos de Zeus...

Contudo não – sou o demasiado humano,

Nem Prometeu, nem Typhos, nem Hérakles –

Héktor é meu nome!

Ninguém conjurou divino alvedrío

A meu favor!

Ninguém quis demonstrar minha coragem

Atando-se à minha armadura, confirmando a farsa

Da divina origem facilitadora da força belicosa

Nem pelo fogo, nem pela revolta, nada do olímpico

Moveria tanto a sede de glória quanto a injúria criminosa

Feita pela voz, pelo gesto, pelo olhar humanais

Fora do que nada resta ou interessa: eis-me!

Tu, Aquiles, tens a lança mais certeira, confesso,

Já divisei a morte, não a temo, encaro

O perigo de causar o pranto, a desgraça alheia

O risco de te trucidar contrariando a obra

Do fado maquinal e dos bardos ceguetas.

A haste minha, reta, bem que traspassar-te

Poderia; Thétis antecipava o rico funeral

Assim entalava a vitória em todos, surpresos,

Porque só a vitória libera!

Só a vitória persuade!

Só a vitória derrota...

a rotura do ser puro erro.

Vem então perto! Faze mira, faço-te alvo!

Quem sabe não me junte aos guerreiros sãos

[um desacerto se lança e sibila]

agora me perco!

[o acerto do pelíade atordoa]

a morte tem rótulas em demasia...

dado a cada um o cair um dia

de joelhos, recebo meu prêmio,

a parte que cabe a Héktor na posteridade

o ensinar aos nascituros a humildade da coragem:

é de bom tamanho ter medo e saber vencê-lo!

[Héktor já estava vivo para o eterno]

Danilo da Costa Leite
Enviado por Danilo da Costa Leite em 02/07/2011
Código do texto: T3071154
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