O Héktor extremo
Não fujo ao destino, corro a ele,
Três vezes circundei os muros da cidade
Três vezes mais confirmei os limites
E se fosse também filho de Thétis, Aquiles,
E se minha mãe abraçasse os joelhos de Zeus...
Contudo não – sou o demasiado humano,
Nem Prometeu, nem Typhos, nem Hérakles –
Héktor é meu nome!
Ninguém conjurou divino alvedrío
A meu favor!
Ninguém quis demonstrar minha coragem
Atando-se à minha armadura, confirmando a farsa
Da divina origem facilitadora da força belicosa
Nem pelo fogo, nem pela revolta, nada do olímpico
Moveria tanto a sede de glória quanto a injúria criminosa
Feita pela voz, pelo gesto, pelo olhar humanais
Fora do que nada resta ou interessa: eis-me!
Tu, Aquiles, tens a lança mais certeira, confesso,
Já divisei a morte, não a temo, encaro
O perigo de causar o pranto, a desgraça alheia
O risco de te trucidar contrariando a obra
Do fado maquinal e dos bardos ceguetas.
A haste minha, reta, bem que traspassar-te
Poderia; Thétis antecipava o rico funeral
Assim entalava a vitória em todos, surpresos,
Porque só a vitória libera!
Só a vitória persuade!
Só a vitória derrota...
a rotura do ser puro erro.
Vem então perto! Faze mira, faço-te alvo!
Quem sabe não me junte aos guerreiros sãos
[um desacerto se lança e sibila]
agora me perco!
[o acerto do pelíade atordoa]
a morte tem rótulas em demasia...
dado a cada um o cair um dia
de joelhos, recebo meu prêmio,
a parte que cabe a Héktor na posteridade
o ensinar aos nascituros a humildade da coragem:
é de bom tamanho ter medo e saber vencê-lo!
[Héktor já estava vivo para o eterno]