EVOCAÇÃO REFLEXIVA
Uma tarde e só, tão-somente.
Pensamentos desordenados
Não se cansam nem cessam.
Observo meus dedos.
Parecem estranhos agora...
Das mãos e dos pés.
Bem diferentes da última vez
Em que percebi suas formas,
Observei-lhes os movimentos.
Mas não sei quando foi isso...
Percorro-lhes, um com o outro,
Os do lado direito
Conhecem seus pares esquerdos.
As unhas se unham,
Pontas unidas.
Pausa no olhar.
Outra cena:
Berço um fim de sol
No meu regaço
Como se fora um filho
Ou um amante exausto...
Acompanho-lhe o respirar
No arfar dos meus seios.
O resto é puro silêncio,
Como prece que sai dos olhos
E se espalha no ar.
[há quanto estou aqui?]
Do coração
Partículas resplandescentes
Despreendem-se...
Um círculo à minha volta,
Outras presenças.
Não estou só.
[estive algum dia?]
Descubro o intercâmbio.
Desvendo a energia.
Mãos de luz.
Para o poeta e amigo José de Castro, que sempre é "luz".