Crônica poética
Em um passeio, de bicicleta, entre Curitiba e Antonina, via Serra da Graciosa, ia um poeta:
1
No portal da Graça
No presente
Entre futuro e passado
Tenho como cliósofo o sabor!
De fontes, de vida,
De memórias encerradas!
Neste dia ao céu cinza,
Como foto do passado!
2
E descia na Graça,
Buscando suas curvas,
Querendo os seios da natureza e
Por este dia, tudo tão lindo
E velado turvamente
E não se contemplava
A não ser pela proximidade
O corpo verde da Grande Mãe!
3
E descia pensando no tempo
Como este é lento
Quando nos inserimos na paisagem!
Sentia e vibrava em alma,
Sua lentidão e eu,
Já muito molhado,
No êxtase e na paisagem!
4
Em muitas curvas é possível,
Na paciência, parar!
Há veias com o límpido sangue,
Cristalino e frio que,
Das terras e das pedras,
Flui das montanhas!
Como é bom dele amamentar-me!
E gota a gota, sentir-me mais vivo!
5
Há muita pedra e floresta,
Ambas entrelaçadas e vivas!
O caminho uma serpente,
Sinuosa aos desafios,
Força-nos a parar e ver,
O que ao seu redor,
Silenciosamente,
Se encerra!
6
Há flores, árvores e pássaros!
Vida a fluir sem inibição!
Vida viva! Viva a vida!
Que aqui, em versos trêmulos,
Em mãos cansadas,
Insisto em tentar registrar!
7
Depois de tudo isso,
Num ato de cliósofo,
Olho para trás e vejo,
Tudo aquilo por onde passei e
Magicamente após o portal do instante,
Encarna como meu,
Meu passado vivo, vivido, suado!
Meu passado, minha memória!
8
Agora em Antonina,
Igreja do Pilar,
Rente ao mar,
Calmo em baía!
Os barcos no remanso,
As ruínas à maresia,
O céu em cinza,
Latem os cães,
Ouço vozes na igreja,
Roncos de motores,
O trânsito das pessoas,
Calmamente dá movimento,
À minha paisagem!
9
Dos roncos que ouço,
Grita a história!
São veículos do passado que,
Feitos pelos homens,
Pelos homens em beleza, preservaram-se!
10
No trapiche que avança sobre o mar,
Desenha-se a serra,
Ruínas e nossa Senhora do Pilar!
No mar calmo, belo quadro,
Barcos trafegam,
Ao longe navios de carga!
Em terra, o vai e vém,
De pessoas curiosas,
Do presente passado!
11
Cidade de tracejado colonial,
Ruas em paralelepípedos,
Arquiteturas oitocentistas,
Ar de novecentos!
Mescla-se flertando,
Ares de modernidade!
Trafegam coches que são carros,
Motos e bicicletas,
Não mais cavalos,
Resta a alma,
Esta sim,
Agrilhoada em séculos passados!
12
Coloquei-me em duas praças,
Ao Pilar e rodoviária,
Versos do cotidiano e
Aqui agora, ônibus aguardar!
Junto às pombas, João de barro e sabiá,
Artesanatos e roupas, e pessoas!
Tudo isso vejo aqui,
Do banco da praça,
Da rodoviária!