Horizontes

Euna Britto de Oliveira

www.euna.com.br

Deus quer ver

Quem é capaz de louvá-lo até no fundo do poço!...

Posso dizer “mea culpa”,

Mas “sursum corde” é difícil,

Meu coração vai a pé

E quer mais Fé!

Segue comigo a multidão não recenseada.

Pó e pá.

Dói no fundo do mar,

No interior da concha,

A ostra invisível,

Porque sabe que o mergulhador

Vai lhe arrancar a pérola e a vida!

Quisera ter asas para voar

E nada para contar, para enumerar.

Os números determinam mais nossa vida do que as próprias palavras.

São eles próprios as mesmas noções

Em todas as nações, em diferentes palavras...

É de número nossa idade, nosso poder aquisitivo,

Nosso tempo, nosso espaço,

As distâncias das coisas boas ou ruins

E toda e qualquer duração...

Passo um pano úmido sobre minha fronte

E não consigo limpar certas lembranças,

Certos acontecimentos.

Parece que comi das dores do mundo,

Minha cabeça pesa,

Minha cabeça pensa,

Tensa e mal dormida.

— “As flores não existem mais”, diz Dulce,

Ao se lembrar dos copos-de-leite que não vê, faz tempo!

Eles cresciam em lugares úmidos e enfeitavam as jarras...

Hoje, chorei copiosamente...

Novos horizontes aparecem em olhares úmidos.

Humildemente obedeço à minha certidão de idade.

Passo

Fico

Pacifico

Sou

Estou...

O que restar, restou!

Belo Horizonte, 1980.

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Observação:

"Sursum corde" - Expressão latina que significa "Corações ao Alto"

Euna Britto de Oliveira
Enviado por Euna Britto de Oliveira em 01/12/2006
Código do texto: T306622