Dom
De vez em quando,
Sinto-me como fada que perdeu o poder,
Esse meu novo poder de escrever!...
Mas quando o exerço,
Nem me lembro quem sou
Ou quem não sou!...
Ser fada às vezes enfada.
Desço ao nível de gente,
Que é sempre mais exigente,
E então vou criar filhos
Arrumar gavetas
Lavar pratos
Cozinhar
Costurar
Dar aula
Emprestar coisas...
Ou então tocar piano
Em semitom e semidom...
Aprendiz de fada...
Dessas que ainda vacilam,
Tropeçam,
E,inseguras,
Seguram-se na certidão-certeza
De não-servidão.
E quando se aprumam e se exprimem,
Têm a estrangeira expressão
De uma simples passageira
Que é deste mundo e não é,
E se faz entender,
Porque língua de fada é antes empática
E só depois telepática!...
Primeiro, é lugar do outro,
Pra depois ligar pra o outro!...
Enquanto não vem a que reduz,
Faz-se a comunicação como se fez a luz!
Canais abertos
Queluz
Vaduz
Corridas de avestruz...
Tudo num passe de mágica,
Hemorrágica sangria nos deuses
Que precisam doar sangue,
Porque já começaram,
E não podem parar!
Nós é que ficamos anêmicas
Por não os procurar!...
Ah! Visão de gente abafada,
Princípio de fada inacabada...
Ontem, um morcego rodou muito minha janela!...
Será mau agouro?...