Resta-me a palavra e sua força,
Um poema que sempre se insinua
Pelos interstícios do silêncio.
 
E sem a poesia sou um nada,
Pela poesia sou menos ainda.
 
Poderia ser você, bem que poderia...
A descer pelas ruas ermas do meu sonho,
A cruzar as esquinas soturnas de meu devaneio
E, de permeio, devorar os versos que componho,
Entranhar-se do lirismo por que tanto anseio,
E não me tomarias tanto assim por tristonho,
Mais do que me ponho sem nenhum esteio.
 
Mas o que me resta é me ver sem sonhar,
Sem me deixar levar pelas ruas que esqueci,
Sem uma palavra sem força a se insinuar
Em meio aos poemas que nunca escrevi...
Há uma esquina e razão alguma para dobrar
E vão por ela uns passos que jamais antevi:
E eu só me ressenti de não poder mais caminhar.
 
Poderia ser você, bem que poderia
Para me calar a palavra e deixar a poesia
Como no fim daquela noite, antes de nascer o dia,
Antes de morrer toda a tarde de tudo que eu diria.
 
Mas não foi você...
Sempre que chamei, atendia por outro nome
E agora não sei mais o nome por que lhe chamei...
Marcos Lizardo
Enviado por Marcos Lizardo em 27/06/2011
Reeditado em 19/05/2021
Código do texto: T3061110
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