canto do diabo
Ainda que me venha a fome
Me venha o nada
Esse nada mesmo
De deus
Ou da falta de pão
Ainda que tudo isso venha
Quero que traga no seu peito, anjo noturno
O canto de minha mãe
Os cantos de meu pai
As visitas à fazenda de seu Ándre
Quero, se você permitir anjo negro
Porque és senhor de todo o céu
Uma menina pobre pra eu amar
Um homem grande pra conversar
Quero, meu deus calado
Que diz tão pouco de mim
Que a socos e choros
Tento descobrir,
Quero que dê asas..
Pra planar do alto
E ver sem perigo ou risco morte
O pranto negro que entra nos olhos das gentes
Os infames momentos em que nada vale viver
Sonhar
Lugar em que o sorriso fica caro
Raro
Indecente até
Eu quero, minha alma cantante,
O seu desenrolar
Que canta mais que noite
Que as estrelas
Que visita cafundós dos espaços
E volta com o novo
Com o brilho
Que tudo que seja bom e aguardado
Meu canto
Meu canto
Que é você, coração, ar, saudades,
Senão, não haveria arte
O ponto que me falta
É o que te entrego
E voo sem precedentes a caminhos
Do mar
Da morte que impaciente briga comigo
Que chora
E me odeia por ser tão resistente..
O morte descansa, mão não desiste.