canto do diabo

Ainda que me venha a fome

Me venha o nada

Esse nada mesmo

De deus

Ou da falta de pão

Ainda que tudo isso venha

Quero que traga no seu peito, anjo noturno

O canto de minha mãe

Os cantos de meu pai

As visitas à fazenda de seu Ándre

Quero, se você permitir anjo negro

Porque és senhor de todo o céu

Uma menina pobre pra eu amar

Um homem grande pra conversar

Quero, meu deus calado

Que diz tão pouco de mim

Que a socos e choros

Tento descobrir,

Quero que dê asas..

Pra planar do alto

E ver sem perigo ou risco morte

O pranto negro que entra nos olhos das gentes

Os infames momentos em que nada vale viver

Sonhar

Lugar em que o sorriso fica caro

Raro

Indecente até

Eu quero, minha alma cantante,

O seu desenrolar

Que canta mais que noite

Que as estrelas

Que visita cafundós dos espaços

E volta com o novo

Com o brilho

Que tudo que seja bom e aguardado

Meu canto

Meu canto

Que é você, coração, ar, saudades,

Senão, não haveria arte

O ponto que me falta

É o que te entrego

E voo sem precedentes a caminhos

Do mar

Da morte que impaciente briga comigo

Que chora

E me odeia por ser tão resistente..

O morte descansa, mão não desiste.

Ariano Monteiro
Enviado por Ariano Monteiro em 27/06/2011
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