Que Sou
Não me rotule, a partir disso apodreço, estrago, azedo. Também não proclame o que sou, serei justamente o contrário. Sou o que não transpareço ser. Sou assim: um vasto e secreto interior. Sou mesmo um eu sozinho antes de dormir, a pensar sobre nada, a gozar o amargo do fel, a pincelar tijolos. Não sou a partir disso ou daquilo, do que visto, o que como, do que tenho, com quem ando, se ando com alguém. Não sou o mesmo que cospe sangue petrificado em veneno por becos e travessas. Não sou o tempo nem ninguém.