Heróis da Linha Torta
Meus heróis não usam espadas,
Nem armas impregnadas de pólvora.
Suas lâminas implacavelmente forjadas
Atingem o peito, sem demora.
Suas balas voam oníricas em asas.,
Atingem e queimam as vísceras da alma.
E vos peço que tenham calma,
Pois aquecem e ferem as impetuosas brasas.
Meus heróis não vem de exércitos nem de barricadas,
Não são guerreiros treinados por nada
Além das crateras e deformidades da estrada
Que se segue, se seguiu e se seguirá.
Estão nas mansões, nos sanatórios, nos bares...
E, solitários com seus cigarros,
Externam pedaços d’alma impares,
Compostos de lógicas, atmosferas, ascos...
Meus heróis são como coringas do baralho:
Bufões saltitantes sem função específica
Em meio a potências altas e baixas do carteado,
Sacados aleatoriamente para mostrar sua magia.
São instrumentos que ecoam no hall da vida,
Rendidos voluntariamente a seus músicos abstratos
Que os manipulam com certo carinho e certo maltrato,
E são mais conhecidos como poesias.
Meus heróis são mestres da polêmintriga
E não estão nem de um lado nem de outro da moeda.
Na verdade, estão bem longe dela...
Não observam através da lente... São lentes!
Não usam pentes,
São bagunçados alucinados.
São gente indecente, (in)fluentes,
Rochas crucificadas.
Meus heróis são artistas – da vida e do nada,
Ousadias que põem a mão na merda.
Malabaristas que engolem a ponta da espada;
Revolucionários – logo, obviamente subjulgados –
Pelas lentes opacas-cegas que os observam.