Da Tela ao Céu Manchado
A tela colorida comeu meu cérebro.
Maquinou os sonhos e engendrou ilusões vãs cheias pus e poesia,
Rotulou minha nuca e me jogou num armazém sujo e cheio de ratos gotejantes...
Fiquei no galpão alguns meses...
Me alimentaram bem, me jogaram numa poça de gente estagnada...
Me cortaram pedaços, encheram de flavorisantes, conservantes, colorantes, e me vestiram
Com vestes de palhaço pra alegrar crianças com síndrome de down...
Rastejei, poça suja a poça suja, pra fora daquele galpão...
Aleijado, rolei pela grama e me enchi de coisas orgânicas...
Capenguei pelos etílicos, flutuei pelas nuvens branco-acizentadas...
Vi poeira e areia sintetizarem animais epiléticos palpitando em buracos rasos...
Rolei... Rolei por ai... Criei pedaços novos com papéis de jornal e papelão,
Virei uma salada de peças soltas – com um gosto agridoce temperado com ácido...
Aprendi a grunhir formigas... Depois peixes, tartarugas... Rosas artificialmente coloridas...
Até enfim vomitar asas que gritam violões para platéias mancas...
(...)
Vomito asas, alguns usam como muletas, outros como drogas...
...Alguns como deveriam ser usadas: Sem manual de instruções.