Engasgada nos recônditos
jaz toda a poesia que eu tinha
(Ah! Esses vazios escuros e silenciosos
e essa fuga por estes versos pretensiosos...)
Restou tão somente a vida,
tão real e fria como a fria lâmina
que trago encostada na garganta.

A palavra me olhou do alto de seu desprezo,
pétrea como é, e me petrificando:
“entre mim e ti finda toda a poesia”,
ela me disse sem nenhum espanto,
“esquece o que por nós ainda se diria
e vive só de seu triste desencanto!”

E no último voo soltou minha mão:
“cai para a terra do seu merecimento”,
ela me disse enquanto eu voava para o chão,
ali mesmo de onde brota todo o esquecimento.
E me disse do alto de qualquer imensidão:
“Não pode haver palavra onde há sentimento!”

Levantei-me aleijado de qualquer emoção
e por esta terra caminhei sem pertencimento.
Marcos Lizardo
Enviado por Marcos Lizardo em 24/06/2011
Reeditado em 19/05/2021
Código do texto: T3054530
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