TRAIDOR
Ele me esperava contemplativo
Inerte, repousando ao seu comprimento.
Já ouvira, antes, superlativos,
Nada que mudasse seu comportamento.
Ao primeiro gole, paladar.
A cor púrpura, razão.
Das uvas, o respaldar.
Próximo sentimento: emoção!
Depois do primo hausto,
Preguiça.
Logo, me vi fausto:
Cobiça.
Contei bravuras e bravatas,
Cantei canções ao léu.
Manchou de tinto a gravata,
Tinteiro vivo pra meu cordel!
Falei mentiras com tom de verdade,
Veracidades à língua solta.
Terceira taça sem sobriedade,
Riso frouxo, pouca roupa.
Nada quis além de deleite.
Ele me levou além,
Fez-me ser algo em falsete,
Traidor: vinho, porém.