CONVIVIDOS
vividos,
juntos,
os corações não pararam de bater
nem por um segundo...
nem por um momento!...
teu peito participa do meu peito
até por telepatia;
aí, há uma taquicardia,
uma sublime inquietude do vento
soprano apressando os batimentos...
Saíste apressada pelo dia
enquanto o sol dormia,
expuseste a felicidade de teu rosto ao mundo,
- cínico de tudo, jamais cego –
que ainda confunde o brilho da beleza bem talhada
da amada que ontem dormiu entre minhas coxas,
com a mulher batizada pela ducha dos desejos:
abençoados sejam os beijos de boca ao sexo
de inesquecíveis gostos próprios!
vividos,
juntos,
o tempo pára por achar que é cedo
a eternidade do instante
tão nosso, em alguns momentos!...
Teus olhos fundos participam aos meus olhos rasos,
sem a sombra da velada hipocrisia,
acordados dormimos do mesmo lado, sem medos.
Trocamos a posição até do sexo das cômodas,
em cada canto nosso, nenhum segredo:
no meu, um cartão-postal datado, amarelado, anos setenta;
no teu, um bilhete, rabiscado,declarando um amor improvisado.
Acostumei-me ao teu peito,
ao aconchego dos teus olhos poucos em busca dos meus,
sereno,
tanto ao riso quanto ao choro
paciente pelo atraso da pizza pedida por telefone,
que alimentará a vida vã sem mais a pressa aos divãs;
imóveis,
tanto no calor quanto no frio
sobressaltamo-nos às línguas sanguessugas
que ardem prazerosas como se saboreassem sorvetes.
A televisão, muda, enfeita a sala,
o relógio-múmia, presente, parou no pulso:
estamos juntos e nos bastamos
amados
para a eternidade
enquanto nossos corpos fogem da rotina dos noticiários.
Conquisto-te dia-a-dia,
até do outro lado do mundo,
- cínico de tudo, jamais cego! -
com a mesma cara-metade
com o mesmo rosto
feliz, por sentir-me acordado entre as tuas coxas:
abençoados sejam os beijos de boca ao sexo
de inesquecíveis gostos próprios!