O CANTO BEM-VINDO DAS ASAS

de manhã,

pássaros ensaiam o primeiro canto.

És sabiá, eu canário

da terra que aqui cantiga,

antiga,

a voar em fuga ao sonho que persigo:

o bater das asas

com desejos de ficar.

entre a sabiá e o canário

há muito pouco espaço e uma gaiola aberta.

Misturamo-nos

com o andar do dia

aos bem-te-vis, aos melros-pintados, aos bicos-de-ferro,

fazendo côcô como a andorinha,

que cagou na cabeça do Vinícius-poeta

por obra e graça minha!

no final da tarde,

a fatalidade retornará aos ninhos.

Entristecemo-nos

com a perspectiva da noite,

mas enquanto as asas do urubu-rei

não descolorir a felicidade do céu, vinda,

preservaremos os beijos de bicos

e a fertilidade dos musgos catados

para sabiazinha-canária,

de olhos amargando os jilós mordidos;

até feliz ao nos ver voltar,

sem ainda saber cantar

toda a liberdade das grades descobertas.

Amanhã,

canário e sabiá,

num rasgo de repente,

abrem-se mais que as portas do céu dos passarinhos:

libertos do canto, esperado, das manhãs.