A CHUVA DE AÇOITE E A PORTA EMPENADA

pedi à amada triste que partisse,

levada, como a enxurrada ao oceano.

É extremamente incômodo ver uma mulher chorando

com a mágoa transbordando copo e corpo afora;

principalmente se esta mulher for a inesperada

que compartilhou páginas dobradas e livros

escovas de dentes com o mesmo hálito

da noite no tempo do dia acordado.

Constrangia-me vê-la dessentida de alegrias!

pedi à amada triste que, ao sair

sem bater a porta,

não virasse as costas

nem escutasse as tristezas guardadas em mim.

Constrangia-me vê-la tentando disfarçar sua voz!

pedi à amada triste: silencio

absoluto até de soluço!

a entrada da porta ficará sempre fechada

enquanto minha tristeza covarde

afogar-se em seus medos.

É extremamente inquietante ver uma mulher chorando

com a dignidade do nariz empinado no lenço seco;

principalmente se esta mulher for a irrequieta

que acordou os sonos e dividiu os escuros

cegos do inquieto dormir pleno e claro

sem tempo de sonhar assombrado.

Constrangia-me, sensato, vê-la enxugando tristezas!

E, depois da dor afogada nos mares,

sem lenço, ela volta como nuvem

pesada de chuva,

açoitando a porta da casa

batendo para entrar.