Pequena

Desde que o mundo cresceu e eu fiquei pequena

dei prá perder o chão, prá entornar o caldo

prá dizer besteira e até palavrão...

passei a procurar agulhas no palheiro

e eu que nem sei costurar

passei a alinhavar rasgos nas minhas sedas

pregar botão, bordar segredos

fazer bainhas nas vestes da solidão...

passei a perder a hora, perder o prumo

a ficar lenta, meio sem rumo

meio tonta passei da conta de me perder...

desde que fiquei sem chão

entornei o mundo e passei a deslizar

a levitar como num sono profundo

passei a contar estrelas na palma da mão

a orbitar meus olhos em volta da lua

a cometer uns astros, ensaiar uns atos

passei a me estender, a me esticar

dei prá tentar alcançar...

mas quanto mais me estico

mais pequena eu fico...