Voltei

Voltei

Voltei, eu ser daninho, ao inóspito meio

Fui sem receio, abjeto, nele aceito,

Sedento renovar-me à fonte anseio,

Eu, juiz e réu; presa, inquisidor e suspeito

Depondo o fardo a fadiga e a cobiça.

Atado ao meio pelo meio fui ficando

Nos braços traiçoeiros do sucesso

Deus possesso não me arguo até quando

Suportarei ao triste e irracional progresso,

Me atolando no pró-seco e na carniça...

Da água pura dia a dia me despeço;

No ar que trago só inspiro pó daninho;

Justo o repouso do silencio não mereço;

Abate-me o alimento me perde o vinho;

Cobre meu ninho o negro manto da injustiça.

Voltei, eu ser enfermo, ao nascedouro

Abjeta, vim a rogo revogar-me a tirania

Ávido em restaurar a um ser vindouro

O céu azul, a água límpida e alva a poesia

E alforriado não morrer em falsa liça.