Piu-piu do exílio

Minha terra tem gaiolas,

donde clamam os sabiás!

Araras que aqui maltratam

já não conseguem voar.

Não permita, Deus, que morram

trancafiadas, sem lar,

as aves que aqui maltratam,

onde sofrem os sabiás.

Pintassilgos, sanhaços,

trinca-ferros a piar:

- Só mesmo na poesia

haveremos nós de voar?

- Não matei nem roubei ninguém!,

põe-se a ave a papagaiar,

chorosa, por trás das grades:

- Por que ficam a me torturar?

Não permita, Deus, que morram

tico-ticos sem fubá:

há aves que aqui trancaram

q'inda hei de libertar!

Nossas aves? Não são nossas,

no entanto andam a ocupar

as grades que a traficantes

a lei deve impor e aplicar!

Minha casa não tem gaiolas,

trago no peito os sabiás.

(Disponível com imagem em: http://quasedois.blogspot.com/2011/05/piu-piu-do-exilio.html)

Obs.: Este poema foi utilizado em junho/2011 pela professora Salma Ferraz em uma avaliação para os alunos de Letras da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Fico muito honrado com a lembrança! ;)