Bonsai: a árvore que poderia ter sido e que não foi

Meu corpo expandido se comove diante do bonsai.

(E da jaula esculpida no invisível não se desprega um ai.)

Vejo-te represados desejos e contorcidas volúpias

enxertados em arte de um entrelaçamento sem sim.

Refreada tua esperança de árvore, teu amor vegetal,

tua seiva anêmica resistem, estoicos, diante de mim.

Que mãos aprisionaram braços ainda tão jovens

milenarmente, e para sempre, retorcidos assim?

Foram deuses, gigantes, dragões ou antepassados

no dia em que um sol de tristeza lhes secou o jardim?

Será que és fruto da ira cega de titânicos invasores

derrotados diante do sorriso de um querubim?

Inconformados, sem lanças, menores e tristes,

não viram que um anjo não tem começo nem fim?

Já que espremeram teus gritos, limitando sonhos,

– ou apreenderam a vida, em essência, enfim, –

minha boca ocidental, sem entender essa redoma,

comovido com a arte que aceitas sem motim,

grita uma palavra elástica e distendida no tempo

para expressar a desciência de quem é:

Tua diminuta vida poreja, viceja e em ti se contrai.

(E da jaula esculpida no invisível não se desprega um ai.)