POESIA ROUBADA
De súbito, surge a morena.
Sem que eu esperasse,
Com a vontade engatilhada
Apontada na minha cabeça:
- Quero a poesia que escondes na bolsa !
Abro-a,
Estendo as tralhas no chão:
Aí tens alfarrábios,
CD do Caetano,
Um cálculo complicado, já resolvido,
Alguns traços ...
Dinheiro não tenho, não !
Então !? ...
Inútil ! ...
- Fico com eles,
Mas o que quero mesmo é a poesia!
- Tudo que tenho são essas parcas palavras,
Soltas, esgarçadas,
Carentes de nexo.
Só Pessoa lograria juntá-las
E dar-lhes sentido.
Talvez, condescendendo com meu desespero,
Concedeu-me o dia seguinte.
Embalde, supliquei-lhe
Devolvesse as palavras.
- Essas não quero na poesia,
Vire-se, arranje outras !
E lançou-as ao vento.
Alteou a cabeça
E partiu.