POESIA ROUBADA

De súbito, surge a morena.

Sem que eu esperasse,

Com a vontade engatilhada

Apontada na minha cabeça:

- Quero a poesia que escondes na bolsa !

Abro-a,

Estendo as tralhas no chão:

Aí tens alfarrábios,

CD do Caetano,

Um cálculo complicado, já resolvido,

Alguns traços ...

Dinheiro não tenho, não !

Então !? ...

Inútil ! ...

- Fico com eles,

Mas o que quero mesmo é a poesia!

- Tudo que tenho são essas parcas palavras,

Soltas, esgarçadas,

Carentes de nexo.

Só Pessoa lograria juntá-las

E dar-lhes sentido.

Talvez, condescendendo com meu desespero,

Concedeu-me o dia seguinte.

Embalde, supliquei-lhe

Devolvesse as palavras.

- Essas não quero na poesia,

Vire-se, arranje outras !

E lançou-as ao vento.

Alteou a cabeça

E partiu.

Alcino Elias
Enviado por Alcino Elias em 11/06/2011
Código do texto: T3027846
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