DO QUE É A POESIA (PARTE II) - EU ATÉ ME ESFORÇO
Folhas miúdas, amarelas
cobriam calçadas límpidas
sem papel, nem sujeira...
apenas gotas de estrela
no céu cinza e esburacado
varrido sob meus pés
O fruto derrubado
carcomido pela queda
dava a polpa ao sabiá
Ninguém às ruas agora.
Todos no fim da tarde
margarinamente aninhados
o cheirinho de café
com o pão quentinho
estalando na fornada vespertina...
Finalmente! Pude olhar ao trivial
Em lindo sentimento de poesia
Meu coração congratulou-me: foste um bardo!
Dividi jubiloso o que sentia
Com uma doce senhorinha que chorava
ansioso por mostrar a calmaria
à pobre alma que da vida se ocupava
"Morreram três na ventania, retardado!
Em que mundo você tava?!"
Vociferou a velha gralha indignada...
Que bosta!
Desisto...
A realidade não dá uma dentro comigo...
Ou será o lirismo que só funciona dos olhos pra trás?