VIVA OS LOUCOS
Viva os loucos, paranóicos
Com a cabeça na lua
São lunáticos porque sonham
Que são os senhores da rua
Realizam fantasias
Nas praças, nos viadutos
Esbanjam alegorias
Com a cabeça nas nuvens
Quase presas à guilhotina
Exposta ao sol do Saara
Ou da sanha nordestina
As suas carnes assando
Pela insistência sovina
Dos autômatos de ternos
Que avançam em surdina.
Viva os loucos que imaginam
Que tem corência e razão
Brincam com o próprio gozo
Não têm mulher, nem tesão
Não têm chicote nem pelourinho
Não têm senhor, nem patrão.
No fim do dia já é noite
A noite é mesmo que o dia
Nem almoçar nem jantar
Dia em marasmo, noite fria
A neblina é o acalanto
A cidade os policia.
Viva os loucos que não sabem
Quem é bom, quem é pior
Se viver no viaduto
Ou se morar num mocó
Se lá num apartamento de luxo
A vida é um torpor.