A Condenada
em cada gesto punha em jogo
toda sua pessoa
cada fala saía como o último
grito de socorro
escondia-se do mundo
envolta em inúmeros panos
desculpava-se com os olhos
oferecendo o pescoço aos carrascos
por entre seus cabelos faiscavam os olhos
escondidos da guerra lá fora
guerra aqui dentro,que se pressente
lá fora como um eterno anúncio de tempestade
era tão branca que um descuido
a imaginaria já ausente
presença de fina neblina
aprisionada em porcelana de terror sem fim
o tempo todo assombrada
pelos homens lobos
dos homens-fortaleza sitiada
desistindo do socorro de ontem
vagando entre as portas
do cuidado público e minguado
da mendicância perpétua de quem
não pode ter lugar
sempre do lado de fora
sempre faltando
não há cuidado que possa receber
sua brancura de porcelana não suportaria
recentemente visitou o mundo
do meu trabalho,fugaz
fugiu ao meu olhar escondida
na floresta de panos que a acompanha
procurei interceptar algum ponto
dentro do caos de sua trajetória
que chance teria um mortal
de capturar no rio o reflexo da lua?
aguardo à espreita
que também frequento fronteiras
pelo lado de fora
a diáfana sempre vai voltar
para esse mundo