Foi-se Rodrigo
Um amigo dum amigo,
veio ter comigo,
contou-me que o Rodrigo,
já repousa em seu jazigo,
eu muito pensativo,
indago ao moço altivo,
qual a desgraça do motivo,
do outro não estar mais vivo,
noto que seu olhar,
passa a brilhar,
e como quem ama fofocar,
põe-se a tagarelar,
“É segredo” diz matreiro,
“Nada de contar” sussurra arteiro,
e começa sorrateiro,
a contar-me por inteiro,
“Era moço vagabundo,
foi sem pensar meio segundo,
com tanta no mundo,
atrás da mulher do Raimundo,
aquele é homem perigoso,
já cobriu até criminoso,
só por que o bandido odioso,
foi-lhe muito jocoso,
aquele não é bicho qualquer,
no almoço faltou talher,
deu tanta na mulher,
por causa duma colher,
então descobriu de raiva tomado,
que tinha sido chifrado,
foi correndo já armado,
atrás do Rodrigo safado,
logo logo o encontrou,
claro que tudo ele negou,
e o palavreado de nada adiantou,
bom tanto de tiro levou.”
Ah pobre garoto,
Rodriguinho maroto,
nada tinha de roto,
era moço direito,
o homem falador,
vê-me sofredor,
quando não sinto dor,
estou apenas pensador,
quando meu sorriso brota,
espantado me pergunta,
se sou idiota,
ou tenho coração de agiota,
encaro-lhe de supetão,
digo “É segredo não conta não”
lança-me olhar de conspiração,
aguardando em excitação,
“Raimundo não entendeu,
Rodrigo pagou débito que não era seu,
pois a mulher quem comeu,
não foi outro senão eu,
mas segura tua língua,
já que a macheza de Raimundo,
perto da minha, míngua,
se algo falar já é moço moribundo.”
Como corre o rapazinho,
vai assustado pelo caminho,
em desespero e sozinho,
como açoitado cãozinho,
fico ali sem dores,
pensando em comprar um par de flores,
e desprovido de pudores,
levá-las ao moço que pagou meus credores.