(((((:::::VARANDAS DE SAL:::::)))))

Casas baixas - telhados vermelhos - varandas verdes

varandas de sal e gerânios de espuma

e a lua se derrama sobre a máquina de fazer púrpura

estas praças tão sem cor que parecem de pano

em jardins germinando afetos sob mantos de gelo

o linho mais bordado quem dera fosse este o amor.

Plataformas instáveis - cidade - um arco-íris à janela

Um beijo de magnólias ao crepúsculo, nas ruas da neve negra

um balão aceso no mês de junho como gaivotas ancoradas na areia

Incertas multidões em volta passam sob um céu sempre duro

a duvidosa língua das imagens da liberdade de sermos dois

um recorte quadrado, ao longe, na linha do horizonte,

onde dois grandes olhos, grandes e ávidos, fixos e pasmados,

fitavam sem tréguas nem cansaço.

Uma história que voava com asas grandes, flutuantes,

e pousava em vidros das janelas das casas baixas

com varandas verdes de sal e gerânios de espuma!

Entre o tudo e o nada que espera apenas por amor de esperar.

E por que não galgar sobre os telhados?

(se tudo que me falta é esse lar?)

Ai que bom seria! Ir até ao longe e tocar nele,

os seus olhos repetidos, grandes e úmidos,

vorazes e inocentes.

Descaem-se-me as pálpebras e, com isso,

qualquer diamante feito desta lágrima em aborto

não há olhos, nem rio, nem varandas, nem nada.

Fernanda Mothé Pipas
Enviado por Fernanda Mothé Pipas em 06/06/2011
Reeditado em 06/06/2011
Código do texto: T3018777
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