Natureza Morta
De um canto a outro de tua face
Apenas morte, escuridão e dor
Ocultas em cada uma das rugas
Marcas indeléveis dos tempos vis
E cada uma destas, vinda do passado,
Testemunha contra ti, que ainda mentes-te
Sobre teus dias passados, ocultando-os
Cada dia é apenas outro dia
Para buscar livrar-te de teus fantasmas
Pela ingênua borracha do tempo!
Mas o tempo a nada apaga!
Lembranças, das quais jamais te esquecerás!
Não podes ocultar-me:
Há algo errado quanto a ti
Porém, vejo ainda que, de mim, te escondes
Sim, te ocultas, querendo, de mim, fugir
Tal qual Adão, desnudo, de Deus fugia
Tal qual Eva, a qual do fruto comera
Viste que, dos tais, destino não se apiedara
Enquanto achados não foram pelo Único
Que lhes poderia remir
De cujos problemas Ele Se encarregaria
Com perfeição, sem falhas ou rancor
Então, por que, inda, Kashi, de mim, te escondes
Como se, de mim, fugir, tudo se auto-resolvesse?
O Teu passado, encoberto jamais foi Àquele
O qual um dia todo ele nos revelará
Quando, afinal, todos, diante do Trono Branco
Julgados seremos, divididos entre dois lados
Direita ou Esquerda — Onde lado tu te encontras?
Espero encontrar-te sim, à direita do Pai
E assim continuar a jornada sem fim
E ainda te escondes, sim, de mim, único e real
Neste mundo de sósias, de caras pareadas, de cartas baralho
E ainda me encerro debaixo de tripla cobertura
E me escondo de ti: para sempre não me acharás
Quando de mim precisares, verás então o meu valor
E então será tarde: bem tarde; mui tarde
Tarde demais...
Tarde demais, como morrer sem a salvação.
Condenada ao Inferno, para todo o sempre.