Desabafo

Nem sim, nem não.

Talvez, quem sabe.

Digo não aos versos

que nada me dizem.

Palavras perdidas, partidas

repetidas, desencontradas,

nem ocultas nem reveladas,

obscuras na imensidão.

Muitos versos, pouca poesia.

Perdão, poeta.

Digo sim aos versos que me sacodem.

Que me levam aos píncaros,

que me atiram no abismo,

que me tatuam a carne.

Que me falem da fantasia,

que me dêem bom dia.

Que me façam navegar

mares de arrebentação

e serenos lagos.

Que me falem de flores,

de dores,

de um ciclo de oferendas,

de trapos remendados

ou até mesmo de amores.

Versos de abandono,

sutis como o arco-íris,

como o véu, como a neblina

e os melancólicos entardeceres.

Que me façam à noite meditar

sob o cúmplice olhar

de uma lua fugidia.

Obrigado poeta.

Meus versos: sim e não.

Catados em meio aos cascalhos,

lapidados e jogados ao vento.

Construídos na liga

do traço da areia e do cimento,

de uma semente que brota

em terreno adubado,

em sorrisos discretos.

Versos em permanente

mutação.