Cena do Crime de Esquecimento

Caída no meio do sótão,

uma boneca jazia.

Havia sujeira no corpo,

mas na roupa um brilho luzia,

Apesar dos olhos tristonhos,

no rosto o sorriso aparecia.

Com quantas crianças brincara?

Tantas que não saberia!

Ali abandonada ficara,

Lembrança de infância esquecida.

Na varanda da mesma casa,

um velho com olhar distante!

Perdido no espaço longínquo,

contemplava o horizonte.

Por onde seus filhos se foram,

com promessas de enriquecimento!

Ali aguardava cansado,

cada dia mais apavorado,

com o fim no esquecimento!

Muitos quilômetros dali,

o filho trabalhava dobrado,

em uma tal de “internet”, o dia todo enveredado!

De dia dizia que nela, ficava conectado,

E a noite, já tão cansado,

nela ficava relaxado!

Enquanto os netos cresciam,

sem qualquer ensinamento,

das coisas de antigamente:

Balança, Peão, Pipa ao vento!

O avô que distante ouvia,

e daquilo nada entendia,

para ele só havia,

Melancolia e esquecimento!

A filha por outro lado,

que tanto brincara com a boneca,

No sótão a tinha largado,

para se casar com um doutor!

Doutora também tinha ficado,

e dia a dia em seu trabalho,

lidava com a dor e os tormentos!

Às vezes suspirava cansada,

quando na madrugada acordava,

pensando em seus sentimentos!

Sentimentos que já não sentia,

pois amigos para contar não tinha,

assim como ninguém para falar!

Então entrava na “internet”,

lugar de gelo glacial,

e ali espairecia, não com certa hipocrisia,

em uma “rede social”.

Onde ninguém se abraçava,

mas apenas se olhavam por um tal de “Portal”.

E seu pai que nada entendia,

dela apenas se compadecia, pois tudo era virtual.

E pensava que chegaria,

um dia que não tardaria,

que ninguém mais soubesse cantar!

Pois há muito percebia,

que o mundo o sentido perdia,

e a humanidade

não mais sabia chorar!

Então o velho pensava,

que já chegara o seu momento,

pois do mundo que conhecia,

tudo era esquecimento!

E na varanda contemplava,

o fim do dia chegando!

E seus filhos abençoava,

por onde estivessem andando!

E então de Deus brincava,

pensando que tudo podia mudar!

E de forma senil imaginava,

que no sótão sua filha brincava,

com a boneca a sonhar!

E então deitava na cama,

e rezava já sonolento!

Pedia a Deus que perdoasse,

E que a humanidade não mais praticasse,

O crime do esquecimento!

Marco Antonio Vasquez
Enviado por Marco Antonio Vasquez em 30/05/2011
Reeditado em 09/06/2011
Código do texto: T3003683
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